Este blog continua por aqui.
Mas vou deixá-lo quietinho enquanto construo e modelo outro:
www.debarroeletra.wordpress.com
"...praticamente não disse nada e ficou por isso mesmo." (Leminski)
6 de maio de 2015
22 de abril de 2015
DOR
Da estalagmite pinga o soro,
veia estalagtite.
A meu lado um homem chora,
lá fora me esperam com medo.
Meu delírio viaja na droga que me dopa,
fujo para a piscina do útero e me aqueço.
No colo dela me aninho e choro feliz.
Uma caverna em um dia.
(imagem: Google)
16 de abril de 2015
PIXO
Muros não protegem
Escondem vergonhas
Publicam medos
Muros sobem
Apartam crianças
Ostentam injustiças
Muros guardam a suspeita
Muro é casta
Oprime e limita
Muros são erguidos
Incongruência,
São detonados
Muro arte
Luz no grafitti sujo
Fragmento
Muro desaguado
Muro-mureta
Muro devir
Muros me desassossegam
15 de abril de 2015
ENXAIMEL
Lá tenho amigos
Só dois
Os outros estão por aqui
E por aí
Lá vivem lembranças
De jardim
De barro...
E de um Ipê
Lá estavam meus desejos
Aqui estão meus sonhos
(2008)
14 de abril de 2015
Pretérito Imperfeito
Na parede fotos....e pratos.
Na geladeira legumes velhos esperando a vez.
Apanho a música perfeita e um troféu de valentia.
A chuva traz o aroma acre
e a umidade dos tecidos costurados
como remédio.
Lembro de um Ipê e de outros mais.
Onde estão as flores? Os jardins? O jardineiro velho de
chapéu?
Um balanço na mangueira me faz sorrir. E chorar depois.
Aturdida volto a viver nas pessoas, no ninguém-em-mim.
Vivo no colo de meu pai, na fotografia amarelada e linda na
parede.
13 de abril de 2015
Ouvindo Fayga Ostrower
Nada pode ser tão belo como uma verdade profunda. O bonitinho caindo do pedestal para surgir
o feio estranho que tem mais verdade, que,
julgado pelo meu senso bom ou mal, é belo, é gozo, é o todo.
A minha
verdade, o que eu acho palatável, o que me
desestrutura para logo em seguida me recompor, pode ser a beleza que
remete à natureza com suas perfeições, assimetrias e simetrias, seus movimentos
repetidos em ondas sonoras ou reconhecíveis no dodecafonismo ou na ausência de
ritmo. Ou minha visão deturpada da realidade formal do objeto visualizado.
A realidade
que escancara e revela: a favela
glamourizada versus a fachada cercada de arames forjados no medo e no
preconceito, animais perambulando ao redor da ilha da alegria do paisagista
afetado e das cercas construídas, os dejetos e detritos se avolumando sobre a
areia que a onda recolhe e devolve num
movimento ritimado e voraz, levando junto o que restou da beleza da verdade. O pixo no muro que aparta e traduz: contém o inacessível?
- então eu agrido, eu vandalizo, eu depredo.
A criação de
verdades individuais sobre a doença que se avizinha, revelada desde uma
sensualidade latente que deixa o entorno pertencer ao núcleo privilegiado. É a
saúde emergindo da doença de cada um de nós. A arte dizendo: - vai, descerra
tudo, -sai, revela o podre, -vem, me protege, agora.
Imagem: Fayga Ostrower
Sem Título
1950
Água-tinta e água-forte em preto sobre papel
Água-tinta e água-forte em preto sobre papel
7 de abril de 2015
Toca no rádio
o que me protege é um desejo maior de ser parte de uma vida
que se faz mais que necessária e que me move acima e para cima.
pois se sair do
centro e procurar a loucura da beira espreitando como vontade, o desejo do único
reverbera na rotina de louças e argilas, no medo do escuro do dia, na
distância do corpo suado, lírico e absurdo.
silêncio e ruído.
4 de abril de 2015
Vida que segue
Conteúdo simbólico de
uma escada e de cada degrau: existe uma frase inscrita
abaixo do peso do passo.
27 de fevereiro de 2015
Bicicletas
No
espelho eu vi uma bicicleta
Vi
várias bicicletas logo em seguida.
A
imagem vinha e ia, como num sonho.
Ninguém
estava nelas, faltava alguma coisa.
Minutos
eternos... até que uma bicicleta desgarrou-se do bando e voltou todo o caminho
procurando algo. Subiu a colina, virou para trás da moita hesitando para seguir
ou voltar.
Olhava para trás e para frente: parecia escolher entre a certeza do
passado e as novidades que o futuro traria.
17 de fevereiro de 2015
Cacarecos
Preciso:
Coisas
Amigos
Louças e flores
Horizontes e
Montanhas
Musgo no
Quintal
Vasos
rachados pela raiz que cresce
Carretéis Papéis Almofadas
Pessoas iguais, diferentes também
Um divã....
São afagos necessários.
8 de fevereiro de 2015
Sobre Cipós
Feminina.
Pedra, ladeira,
Vento doce, forte!
Quando somar tudo isso,
Diga a ela que vai voltar.
Ela vai subir a ladeira.
E você, sentado na pedra,
Vai saber que a força traz:
desejo
roupa e
sapato
toque
sabor
amargura
Vai ver que a ladeira também desce.
E você decide ficar.
(foto: http://www.panoramio.com/photo/23147666)
3 de fevereiro de 2015
Dois
E não é que, quando ele se viu tomado pela necessidade do
recomeço, entendeu que recomeços são renascimentos?
Engoliu em seco, bateu a poeira da aflição dos dias e entrou
na velha-nova vida que percebeu à sua frente.
29 de janeiro de 2015
Colo
Meus olhos ouviram dizer num papel que se perdeu,
que aquela maldade que resolveu se instalar nela cresceu do
medo da mágoa.
Confuso eu me perguntei se não teria sido a mágoa do medo.
Também ouvi ler que traições a gente escolhe e fiz dissoar
barulhos sutis.
A coisa é: a gente processa o sabido para tentar explicar o
que, no peito, dói.
Mas, por mais que se busque uma luz de explicação
nas mentes brilhantes, menos a gente entende a velocidade do ataque.
Mais, a dor que veio sem mais e não pediu licença, avança a
trincheira.
Eu agora vou a seu encontro, esperando ser carregado no colo
por quem precisa de amor.
28 de janeiro de 2015
Vizinhança
Não jogue seu fogão velho na rua, jogue sua cara de pau.
Não buzine com pressa, sorria para o mendigo.
Não compre pirataria, cante para se alegrar.
Não desperdice água, imagine o mar.
Não coma carne, saboreie o poema.
Não fure fila, espere o pôr do sol.
Não corte a árvore, coma um caju.
Não compre o que não precisa, doe livros.
Não adquira agrotóxicos, deguste a saudade.
Não veja com maus olhos, sonhe com os pés.
Não polua, ande na ciclovia.
Não abandone, adote um vasinho.
Não cultive seu preconceito, abra a porta para a vizinha.
27 de janeiro de 2015
Me importa o sul, um pouco o norte.
Me importa a massa e a água que a formou.
Quero o produto fértil da técnica difícil,
E desejo o fogo que forma o caco que vai ser,
Velho que se tornou.
O calor da chama estragando a cor,
A fumaça forte e preta, a dor da transformação.
Preciso de uma certa areia da Babilônia,
Que chega com o vento oriental.
E do sorriso agradecido dele.
Assinar:
Postagens (Atom)