13 de abril de 2015

Ouvindo Fayga Ostrower

Nada pode ser  tão belo como uma verdade profunda. O bonitinho caindo do pedestal para surgir o feio estranho que tem mais verdade, que,  julgado pelo meu senso bom ou mal, é belo, é gozo, é o todo.
A minha verdade, o que eu acho palatável, o que me  desestrutura para logo em seguida me recompor, pode ser a beleza que remete à natureza com suas perfeições, assimetrias e simetrias, seus movimentos repetidos em ondas sonoras ou reconhecíveis no dodecafonismo ou na ausência de ritmo. Ou minha visão deturpada da realidade formal do objeto visualizado.
A realidade que escancara e revela:  a favela glamourizada versus a fachada cercada de arames forjados no medo e no preconceito, animais perambulando ao redor da ilha da alegria do paisagista afetado e das cercas construídas, os dejetos e detritos se avolumando sobre a areia que a onda recolhe e  devolve num movimento ritimado e voraz, levando junto o que restou da beleza da verdade.  O pixo no muro que aparta e traduz: contém o inacessível? - então eu agrido, eu vandalizo, eu depredo.
A criação de verdades individuais sobre a doença que se avizinha, revelada desde uma sensualidade latente que deixa o entorno pertencer ao núcleo privilegiado. É a saúde emergindo da doença de cada um de nós. A arte dizendo: - vai, descerra tudo, -sai, revela o podre, -vem, me protege, agora.




Imagem: Fayga Ostrower

Sem Título
                               1950
                                Água-tinta e água-forte em preto sobre papel

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