Nada pode ser tão belo como uma verdade profunda. O bonitinho caindo do pedestal para surgir
o feio estranho que tem mais verdade, que,
julgado pelo meu senso bom ou mal, é belo, é gozo, é o todo.
A minha
verdade, o que eu acho palatável, o que me
desestrutura para logo em seguida me recompor, pode ser a beleza que
remete à natureza com suas perfeições, assimetrias e simetrias, seus movimentos
repetidos em ondas sonoras ou reconhecíveis no dodecafonismo ou na ausência de
ritmo. Ou minha visão deturpada da realidade formal do objeto visualizado.
A realidade
que escancara e revela: a favela
glamourizada versus a fachada cercada de arames forjados no medo e no
preconceito, animais perambulando ao redor da ilha da alegria do paisagista
afetado e das cercas construídas, os dejetos e detritos se avolumando sobre a
areia que a onda recolhe e devolve num
movimento ritimado e voraz, levando junto o que restou da beleza da verdade. O pixo no muro que aparta e traduz: contém o inacessível?
- então eu agrido, eu vandalizo, eu depredo.
A criação de
verdades individuais sobre a doença que se avizinha, revelada desde uma
sensualidade latente que deixa o entorno pertencer ao núcleo privilegiado. É a
saúde emergindo da doença de cada um de nós. A arte dizendo: - vai, descerra
tudo, -sai, revela o podre, -vem, me protege, agora.
Imagem: Fayga Ostrower
Sem Título
1950
Água-tinta e água-forte em preto sobre papel
Água-tinta e água-forte em preto sobre papel
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